A História
O Mosteiro de Santo Estêvão de Vilela foi fundado pelo capitão D. Paio Guterres, filho de D. Guterres que tinha vindo para Portucale com o conde D Henrique.
Ignora-se a data precisa da sua fundação, mas é certo que já estava habitado pelos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, no ano de 1118, sendo nesta altura seu prior Afonso Pais.
A primeira notícia do mosteiro é de 1085 e não parece ser instituição recente, pois trata-se de uma reivindicação de bens pela comunidade, por andarem alienados. Trata-se de bens doados ou pelo menos haviam sido possuídos por «Frater Abdella cognomento Patre Abdellaz», compreendendo além de prédios rústicos, partes das igrejas de S. Salvador de Sta. Marinha de Figueira, constituindo o chamado «testamento de Sancto Mamede que jacet in Villa Figaria», e a reclamar o direito alçado o mosteiro «in voce Sancto Stephano de Villela ibi est ipsus Sanctus Mames».
Primeiramente era Beneditina e depois passou para os Cónegos Regrantes de Santo Agostinho. Depois de tantas doações, este mosteiro foi bastante rico.
Após falecido António Brandão, em 1590, o mosteiro foi unido à congregação de Santa Cruz de Coimbra, que dele tomou posse em 1595, pela demora das bulas. Seguiram-se os priores trienais, com a eleição do primeiro, a 9-11-1595.
Em 1612, o convento foi unido in perpetuum ao convento da Serra do Pilar.
Os priores de Vilela eram considerados pelos monarcas nos séculos XIII e XIV.
Na freguesia, houve casas notáveis, entre elas a da Varziela, brasonada. O mosteiro de Vilela aparece, no arrolamento paroquial de 1320-1321, taxado em cento e cinquenta libras, apesar do vulto de possessões – o que é inferior a numerosas igrejas sem mosteiro.
As Doações ao Mosteiro
No princípio de 1103, é feita por Gelvira Brandilaz uma doação constante de propriedades herdadas por ela de seus avós e pais, a este cenóbio: «Baselika Sancti Stephani que est fundata in cimiterii Villela» , dito pelo documento como situado na «terra» de Ferreira, abaixo do monte Vandoma (notável estancia fortificada).
Em princípios de 1115, uma dona, Ermesinda Pais doa ao Mosteiro um talho de salina na foz do Leça. O cronista dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho cita uma doação de 1118, por uma dama de nome Gila Pais, das suas propriedades ao Mosteiro de Santo Estêvão de Vilela, «para que as tenham e possuam todos os clérigos e presbíteros que aí morarem debaixo do governo do prior D.Afonso Pais e perseverarem com vida santa e religiosa,segundo a regra do Padre Santo Agostinho».
E outras doações se fizeram, tornando este mosteiro bastante rico.
A Carta De Couto
O mosteiro gozou de prestígio nos primeiros séculos da nacionalidade e fá tão saliente nos princípios do século XII que D. Teresa, a mãe do nosso primeiro rei, o coutou em 1128, doando-lhe tudo o que tem dentro dos limites, que são hoje os da freguesia. Dentro do couto, «in couciario» (coucieiro), morava em 1158 um herdador que dava foro à coroa por ano (um sexteiro de pão uma galinha e dez ovos).
As Inquirições de 1258 e as Possessões do Mosteiro
As inquirições de 1258 já se fazem considerando a paróquia «cauti monasterii Vilele et parrichianorum ejusdem monasterii».
Diz-se nas inquirições que havia então na paróquia vinte e três casais, sendo quase todos possessão do mosteiro, excepto dois, que eram da coroa, isto é reguengos, o que na aparência não joga bem com e cessão teresiana. O notável é que só nestes dois casais, propriedades directas da coroa, havia catorze fogos ou famílias de vilãos-herdadores: «duo casalia sunt domini regis et Habenturibi XIIIIcim fogos herdatorum», os quais não faziam qualquer foro à coroa. O facto admirou os comissários inquiridores, que perguntaram pelo facto de serem herdadores e não pagarem foro algum à coroa, e os jurados locais responderam que assim viram proceder sempre.
Se os tais fogos não faziam foro, faziam-no, porém os dois casais: anualmente, uma espádua de nove costas e com pé, duas teigas de centeio e três galinhas, catorze varas de bragal e um cabrito, uma quarta de alqueire de manteiga e dez ovos e um prato, «de pedida», além da terça do pão. Isto, cada casal; e nenhum deles peitava voz nem homicídio.
O mosteiro, além do deu couto, possuía na época avultados bens, entre os quais os seguintes citados em 1258: a terça parte de dez casais em Jovim; muitos casais em S. Tomé de Negrelos (pelo menos, sete); um, em S. Martinho do Campo; um, em S. Paio de Parada; outro, em S. Mamede de Negrelos; outro, em Roriz; parte da igreja de Santo André de Cristelos, com quatro casais, três em Silvares (São Miguel); mais de seis em Vila Nova (S. Lourenço); parte da igreja de S. João de Nespereira, com uns onze casais; três, em S. Paio de Casais; três, em Cristelo (São Miguel); outros três em Sobrosa; um, em Besteiros; dois em Febros; parte da igreja de Sa Pedro de Gondalaes, com cinco casais; quatro, em Beire; um, em Louredo; três, em Gandra; doze em Duas Igrejas; a igreja de S.Martinho do Campo, com vários casais; mais de dezasseis casais em Sobrado; etc.
Todas estas rendas, a bem dizer se perderam sob os comendatários. Nos fins do século XIX são citadas desta freguesias seguintes capelas ou ermidas: Senhora do Seixoso, no alto do monte deste nome, de fundação imemorial, reedificada em 1873; Santo António, pequena e singela, cerca da igreja; Senhor dos Passos, desde 1878, unida à igreja; e duas capelas particulares, na casa da Varziela e na casa da Fonte, mas francas ao publico.
Nas Inquirições de D. Dinis, de 1290 sobre a «freguesia de Santo Estêvão do Couto de Vilela» , diz-se que «toa esta freguesia é couto do mosteiro de Vilela por marcos e por divisões, e dizem de ouvida as testemunhas que o coutou a rainha Da Tareja», no que não estava em erro a outiva. D.Dinis sentenciou a conservação do privilégio: «estê come está per couto», e assim se conservou, até à extinção dos coutos.
O Declínio
Este foi um mosteiro muito rico, até que os comendatários nos séculos XV e XVI o arruinaram, deixando perder as rendas, dissipando-as ou defraudando-as em favor de parentes.
No princípio do século XVIII estava reduzido à última extremidade: apenas dois cónegos, um que servia de procurador e outro de presidente. As rendas auferidas deste modo pelo da Serra do Pilar andavam então, por ano, à volta de 800 mil réis. Quando o liberalismo extinguiu os mosteiros, havia neste cinco religiosos (1834), os quais o abandonaram levando a famosa e festejada relíquia de Santo Estêvão, existente na igreja, num braço de prata.
A Arquitectura
Apesar de as construções e decorações actualmente visíveis em Vilela serem dos séculos XVII a XIX, e de não se conhecerem vestígios românicos, nada nos diz que tais vestígios não possam ainda aparecer, quer incorporados na actual construção, quer soltos no meio dos campos, tal como aconteceu com o Mosteiro de Moreira, no concelho da Maia.
No antigo Mosteiro de Vilela podemos considerar, sob o ponto de vista artístico, duas áreas distintas: a Igreja, hoje paroquial, e o edifício anexo, que constitui o convento.
A Igreja
A fachada principal
A igreja, é inspirada na do Mosteiro de Moreira da Maia, que pertenceu à mesma ordem. Na fachada principal, tem o corpo central ladeado por duas torres, sendo estas quase isentas e de cobertura piramidal quadrangular. O corpo central é coroado por um frontão triangular, cujas proporções são mais próximas das dos edifícios setecentistas do que das arquitecturas do século anterior.
O portal
No entanto, os perfis das perspectivas molduras remetem para esses tempos ao contrário nos diz o coroamento do portal, cujo frontão, interrompido e de volutas invertidas, sugere uma tipologia nitidamente barroca, que se tem acreditado ter sido importada por Nazoni.Sobre o janelão que se apoia nestas volutas, abre-se um nicho, de desenho bem maneirista, abrigando a imagem de Santo Agostinho, em granito.
A planta da igreja é de grande simplicidade de nave única, sem transepto nem capelas laterais, e capela-mor de menores dimensões.
A nave
A cobertura é em abóbada de berço semi-circular, revestida de caixotões, que não são os originais. As altas janelas da nave, com as suas severas molduras de granito são encimadas por sanefas de talha neoclássica. Os grandes janelões deverão ser redistribuídos à sobriedade da sua expressão arquitectónica característica da severa corrente maneirista.
A capela-mor
No topo da capela-mor ergue-se o retábulo, de talha neoclássica com reminiscências rococó. Os dois pares de colunas caneladas nos dois terços superiores e de capitéis compósitos, bem como os dados que os encimam, e as mísulas das ilhargas, que sustentam as imagens de Santo Estêvão e de Nossa Senhora da Hora, são nitidamente obras de inspiração neoclássica. Mas o reaproveitamento que mais importa salientar é o de três frontais, que se podem atribuir aos princípios do século XVIII.
O Mosteiro
No exterior da igreja, existe ainda o edifício do antigo mosteiro, que apresenta três alas determinando um espaço quadrangular, não fechado.
A porta central
Da três portas do primeiro tramo, a central constitui a, digamos, porta nobre do edifício. Apresenta-se coroada por um complicado conjunto de aletas curvas, assente num lintel em arco segmentar, e interrompendo-se ao centro para dar lugar a um corpo barroco, com frontão terminado em acento circunflexo, em cujo vértice se equilibra um óculo hexagonal, de lados côncavos, vagamente chinês. O campo do frontão é ocupado por um escudo oval, com uma flor de lis e o que parece ser um pássaro, rodeado por quatro ornatos em C, contendo conchas de nítido sabor rococó.
As janelas
De cada lado desta complicada máquina ornamental, ao nível do segundo piso, rasgam-se duas bem proporcionadas janelas de peitoril, de lintel em arco segmentar, embebido na cornijo.
O torreão
O esquema das janelas repete-se na fachada do torreão, no espaço entre a pilastra divisória e a empena que marca a articulação com o segundo corpo do edifício, de eixo paralelo à igreja. Este será o maior de todo o conjunto, com planta cruciforme. No topo virado ao exterior, rasgam-se cinco janelas, sendo a do meio coroada por um frontão a que se sobrepõe um óculo; o outro topo, oferece-nos o alçado mais curioso e intrigante deste conjunto: cinco janelas de sacada, em arco semi-circular, sendo a central ligeiramente mais alta, abrindo para um patamar onde partem dois lanços de escadas em direcções opostas, num sistema herdado do século XVIII.
A terceira ala
Finalmente, a terceira ala, cuja articulação com o edifício da igreja parece nunca ter existido. De notável, apenas uma chaminé com decoração pouco habitual.